segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Ler Quadrinhos: Um Passatempo de Elite?



6a00d83451f25369e2017d40a5cf9d970c-800wi
Olá, jovos e jovas. Apesar do meu já carimbado e caricato cumprimento, esse post não será do mais bem humorados. O fato é que hoje eu vou desabafar e creio que muita gente vá concordar comigo. Então, comecemos!

Bem, se você é uma das 23 pessoas que está lendo isso é por que gosta de quadrinhos, correto? E se gosta de quadrinhos você vai à banca e comprar esses quadrinhos, procede? E se você vai à banca e compra esses quadrinhos, você já deve ter montado uma lista de prioridades, estou certo? Afinal, sua verba destinada a está prática não acompanha a quantidade enorme de opções expostas naquela sessão que os jornaleiros olham com desdém e as mães do moleques catarrentos acham ridículo você estar tomando o espaço das crianças,não é verdade?
story_xlimage_2010_05_R2993_Free_Comic_Book_Day
Pois bem, a questão é que ser "nerd" se tornou uma moda nos dias de hoje e, atrelado a esta moda, nascem novos leitores de quadrinhos todos os dias. O cinema tem sido o principal difusor desse meio entre o público médio nos últimos anos e essa tendência só mostra sinais de aumento, prova disso está na repercussão monstruosa que o trailer de Vingadores: A Era de Ultron causou na rede.
A difusão não para apenas nas telonas. As telinhas ganham cada vez mais séries baseadas nos super-personagens e a busca por material dos mesmos se torna iminente. Com isso, as editoras lançam mão de anos de tradição destes personagens afim de aproxima-los de suas contra partes de carne e osso. Os fãs veteranos dificilmente se sentem satisfeitos com tais mudanças e aí surge a questão das prioridades mais uma vez. Só que aqui não relacionada a quantidade mas, sim, a qualidade dos materiais.
Jesus amado...
Jesus amado...
Desde os anos  90 não se vê tanta coisa grotesca nas HQs, principalmente no que tange a DC. E eu não estou sendo "partidarista" aqui! Se você acompanha as noticias do mundo dos quadrinhos sabe que desde do inicio dos polêmicos Novos 52 a DC tomou uma série de decisões apressadas e conseguiu emplacar meia dúzia (ou menos) de títulos realmente bons. Alguns deles devidamente ignorados por não estarem no "hype" dos heróis de primeiro escalão procurados pelo novos leitores, como o injustiçado título do Homem-Animal do Jeff Lemire.
Z4uPa
Mas...como agradar o velho e rancoroso público e tirar algum lucro disso? Oras...encadernados de luxo com sagas clássicas, claro! E é aí que o bicho pega...
level-78_c_482579
Assim como nunca se teve tanta gente interessada em quadrinhos como nos dias atuais, também nunca se teve tanto material de luxo rodando pelas bancas e livrarias, sejam elas especializadas ou não!  São encadernados de capa dura com centenas de páginas e extras espetaculares, com acabamentos primorosos e com arcos consagrados. A única coisa feia não aparece na capa ou contra capa: O preço!
Sejamos realistas: Tá tudo caro nessa birosca, concordam? A energia tá custando um rim, a água (mesmo não tendo) tá custando um pâncreas, o gás tá custando um baço e a gasolina...nem me arrisco a falar o que ela tá custando pra não baixar o nível! É pouco dinheiro pra muito mês! Você fica a ponto de vender sua mãe pra pagar todas as contras mas sempre dá um jeito de guarda aquele trocadinho pra suprir seu vicio e relaxar um tantinho assim enquanto desfruta de uma boa leitura. Aí anunciam o encadernado com aquele história fantástica que você ou já leu e queria em formato americano por que só tinha os formatinhos da Abril, ou só ouviu falar (e muito bem) e sempre ficou na fissura pra ler. Você vai todo pimpão atrás dessa perola antes que ela suma e vire um sonho distante de novo...aí você descobre o valor, e ela vira um sonho distante instantâneo.
dinheiro-e-mato
Em um país que está passando por tantos problemas e com tanta falcatrua rolando solta com o dinheiro público, até ler quadrinhos está se tornando coisa de elite!  Mas aí você argumenta "Ah, mas é um álbum de luxo! Óbvio que vai ser caro".Ok! Mas quem falou que TODO MUNDO está preocupado se a edição é de luxo ou não? E quem só queria ter a oportunidade pura e simples de se agarrar a uma boa e aclamada velha história boiando em meio ao mar de merda que inundou o mercado editorial nos dias de hoje? Vai ser privado por não poder pagar quase R$100 em uma edição que poderia ser vendida em capa cartonada por menos da metade do preço? Pois essa realidade é tão crescente quanto a onda de novos leitores leigos já citada!
Lucrar com quadrinhos não é difícil hoje em dia. Tais preços absurdos sempre encontram quem os pague. Você pode ser uma dessas pessoas! Isso é errado?Não! É um direito seu! Afinal, se você pagou tanto, o minimo que pode esperar é um material de alta qualidade. O grande problema é que as editoras veem o retorno sobre os preços abusivos e sabe que tem carta branca pra enfiar a faca o mais fundo que puder. E o leitor que não pode pagar? "Que se exploda! Leia nossas mensais com mix cagados por apenas R$5,90! Tá ruim, mas é o que você pode pagar, amigão!"
Eis a opção...
Eis a opção...
A velocidade da informação hoje permite que pouca coisa seja escondida do público em geral. O consumidor de quadrinhos é um que, particularmente, gosta de se inteirar sobre o assunto. E já sabe como funciona a manufatura dos encadernados que chegam até as bancas, livrarias e comic shops. Sabe que muita coisa é produzida em países de 3º mundo à custos ridículos e chegam as prateleiras com preços inexplicavelmente exorbitantes. o problema é que, assim como em tantas outras áreas onde o fumo entra sem dó nem piedade no país, o leitor baixa a cabeça e continua financiando essa prática! Vez ou outra surge um lapso de bom senso que chega até a assustar! Um bom exemplo disso foi o lançamento da clássica e emblemática HQ V de Vingança, de Alan Moore e Dave Gibbons. Depois de um lançamento inicial com o "salgadinho" preço de R$39,90, a Panini pegou todo mundo de surpresa (eu incluso) relançando a mesma edição por ótimos R$24,90 numa edição com 308 páginas em uma capa cartonada que barateou de modo mais que satisfatório o custo! Esse simples fator contribuiu pra que muito mais leitores fossem alcançados do que se fosse colocada uma capa dura e fosse vendido por R$88,90.
Anuncio original da Panini. Só alegria!
Anuncio original da Panini.  R$24,90? Só alegria!
Mas e quem prefere em capa dura? Fica sem? Não! Uma solução fantástica foi dada em uma coleção muito bacana e muito famosa e, pasmem, 100% nacional! Mauricio de Souza teve a genial sacada de buscar tanto o leitor que pode pagar  a mais como aquele que tem que economizar pra passagem nas ótimas Graphic Novels MSP. O principal ponto aqui é que a diferença do valor do capa dura e do capa cartonada é minima, apenas R$10,00. E todo mundo sai satisfeito!
Aí você me diz "Poxa...mas se fosse assim ia ter um custo muito elevado! A editora ia gastar muito pra atender todo mundo!". E eu te digo: Você não leu o que eu escrevi umas linhas acima? As editoras estão lucrando muito mais que 100% com os capa dura que você comprar à preços absurdos!  Que gasto ela ia ter se barateasse ainda mais parte de sua produção com uma capa cartonada?
Enquanto isso, na Marvel e na DC...
Enquanto isso, na Marvel e na DC...
Quer um exemplo de preço abusivo? Certa editora, que já virou um mYto pelos preços absurdos, lançou um encadernado de um certo Espirito Que Anda recentemente. Capa dura, 180 páginas (com uma história furreca e desenhos horrendos, na minha fecal opinião), preço de R$59,90. Enquanto isso, outra editora também chegada e empurrar o fumo na galera mas que , vez ou outra, dá uma dentro, me lança um encadernado contendo uma pequena coletânea de contos da Marvel numa edição linda de morrer, capa dura, 154 páginas e com o preço de R$22,90! "Ah, mas o primeiro tem mais páginas!", você retruca. Quer dizer que 26 páginas custam R$37,00?
1003390_464859393614957_230453903_n
Antes de terminar tem outro ponto em que quero tocar: O quadrinho nacional! No Brasil jé é complicado se conseguir subsídio para apoiar qualquer tipo de movimento cultural. Agora imagine conseguir recursos para apoiar uma mídia que pouca gente leva a sério.Sem o devido apoio o autor nacional tem que correr atrás como pode e, aí sim, o custo de produção saí alto. O leitor, que já carrega certo preconceito com o material nacional, fica ainda menos motivado a procurar esse material quando ele sai com suas 180 páginas custando R$199,90!
Enfim, depois de tentar expor meu ponto de vista nessas mais de mil palavras, eu vou volto a repetir: Ler quadrinhos está se tornando um pequeno prazer caro demais. O jeito é ir se virando em sebos e internet afora (isso quando o frete não mata o precinho camarada com requintes de crueldade). Enquanto isso, vamos juntando os tostões e lendo os lançamentos top do momento daqui há uns 6 meses, quando o preço cair pela metade em um site qualquer...

Nenhum comentário:

Postar um comentário