Olá, jovos e
jovas! Hellbolha “indahouse”!
Como todos
sabem, vivemos em uma época de extremos. Opiniões fervorosas colidem em redes
sociais e, muitas vezes, fora delas, acarretando em ondas de violência descerebradas
onde nenhum dos lados ousa ceder. Estamos vivendo uma era onde a força parece
tomar o lugar do diálogo e a discussão sadia de problemas a fim de encontrar
uma solução favorável para ambos os lados parece fora de cogitação. E talvez isso possa estar refletindo em todos
os campos da cultura, inclusive na pop.
Prova disso
é o posicionamento de muitas pessoas acerca do “visionário” Superman do diretor
Zack “O Elegante” Snyder. Ao fim do filme, o velho azulão encontra apenas uma
solução para deter Zod, o general gritador de Krypton: Quebrando seu pescoço (e
gritando “NÃÃÃÃÃÃO” no processo).
Muitos
ODIARAM essa atitude do herói pois acharam que isso ia de encontro a tudo que
ele simbolizava. Outros acharam que foi a melhor e mais lógica decisão que o Super
tomou. Esse posicionamento vinha acompanhado da defesa de que o filme, que
tinha um ar mais “dark” e deixava o personagem mais “adulto”, trazia o herói
para o século XXI. O publico de hoje não estaria mais interessado em super
heróis coloridos e com espírito escoteiro. Eles clamavam por ações mais
“enérgicas” e “definitivas”. Mas será que isso não iria de encontro a tudo que
a palavra “herói” significava...?
Será...? |
Bem, MUUUUUITOS anos antes de toda essa patacoada começar, Warren Ellis nos mostrou o futuro. E se a Liga da Justiça deixa-se de lado todo o “bom mocismo” e resolvesse que era hora de chutar o pau da barraca e botar ordem no pardieiro usando a força mais bruta possível? Essa é a ideia básica por trás de uma das melhores HQs do inicio dos anos 2000, The Authority.
Publicada em
1999 e tendo saído das paginas de Stormwatch, The Authority contava a história
de um supergrupo compostos por heróis que não eram tão preto no branco como se
poderia esperar. Liderados pela (não tão) jovem Jenny Sparks, o grupo servia
como um tipo de policia mundial e tratava de eliminar qualquer ameaça a raça
humana, desde clones asiáticos super poderosos até...Deus!
Acreditem ou não, esse é Deus em The Authority. Parece absurdo...mas a explicação é boa, acreditem.... |
Mexendo com temas como política, ficção, multiversos e até religião, Warren Ellis nos entrega um grupo de personagens cativantes que conseguem fazer com que você os ame em um momento e os odeie em outros por um simples fator : Por trás de toda a pinta super heroica de todos, eles ainda são essencialmente humanos e falhos.MUITO falhos, as vezes...
O elenco é
composto pela já citada Jenny Sparks, o Espírito do Século Vinte e Um. Jenny
nasceu no primeiro dia do século passado com um único propósito, defender o
mundo durante os 100 anos seguintes. Apesar de véia pra dedéu, Jenny mantém a
aparência de 23 anos e controla poderes elétricos de fazer inveja ao Thor.
O segundo em
comando é Jack Hawksmoor. Jack sofreu uma série de abduções por seres
alienígenas (depois é revelado que ...SPOILER ALERT...eram humanos do século
70) e teve seu corpo totalmente modificado. Agora, além de habilidades
sobre-humanas, Jack pode se comunicar com as cidades e ir de uma à outra em
questão de segundos.
Logo abaixo
de Jack temos Swift, uma jovem alada que ganhou seus poderes quando um cometa
passou próximo a terra e ativou sua pré-disposição genética. Agora ela pode
voar, tem garras, super força, corpo invulnerável e consegue sentir alterações
no ar ao seu redor. Aqui sinto que devo acrescentar uma informação direcionada
ao personagem Anjo dos X-Men...CHUUUUUUUUUPA!!!
Em seguida
temos a Engenheira, uma cientista que trocou seu sangue por nanomáquinas que
permitem que recubra seu corpo com um tipo de pele-armadura, se comunique com
qualquer máquina, voe e lhe dá a capacidade de criar QUALQUER máquina do zero.
Extremis é meu ovo esquerdo!
E, como não
poderia deixar de ser, temos o casal da equipe. O Superman e o Batman do
Authority, Apollo e Meia-Noite!
Ambos
ganharam seus poderes após serem cobaias de projetos secretos do governo e
comerem o pão que o diabo amassou. Após conseguirem fugir, o casal passou a
viver nas ruas e combatia o crime enquanto buscava vingança. Eles foram
alocados de forma não muito amigável nos Stormwatch, mesmo que não soubessem
(Jackson, o chefe do Stormwatch injetou secretamente nanomáquinas explosivas em
ambos para o caso de saírem de controle) e depois se tornaram parte fundamental
do Authority.
Apollo tem a
capacidade de absorver energia do sol e tem superforça, invulnerabilidade,
capacidade de voo e é capaz de lançar raios de plasma nas fuças do inimigo.
Meia-Noite é
um lutador extremamente habilidoso e além da força ampliada e fator de cura, é
capaz de prever todos os movimentos feitos e não feitos pelo seus inimigos
antes mesmo que eles os executem (ou não).
Sim, eles
são uma referencia direta e nada discreta a duplinha da DC. E o fato de ambos
serem homossexuais é tanto uma alfinetada nos personagens originais quanto uma
mostra de que a opção sexual de alguém não afeta de forma alguma em seu caráter
e sua capacidade de fazer algo. Aliás, o Meia-Noite é um Batman MUITO MAIS
MACHO que o próprio Batman. O cara é fodão!
Apollo e Meia-Noite provam que casal que se vinga unido, permanece unido! Essa cena é ÉPICA! |
Os inimigos do Authority não são os costumeiros vilõezinhos de HQs que aparecem, destroem um quarteirão ou dois e depois são derrotados e presos. São sempre ameaças em escala global e que eles não pensam duas vezes antes de mandar pra cidade dos pés juntos. Mas é no segundo arco, Naves Dimensionais, que o grupo resolve que é hora de adotar uma atitude mais rígida não só com relação aos super-seres mas, também, com os seus governantes...
Em Naves
Dimensionais nossa Terra é invadida por seres de uma Terra paralela, a qual
teve seu primeiro contato com vida extraterrestre no período da Renascença.
Após várias trocas de conhecimento com os aliens, a humanidade evoluiu
tecnologicamente de modo diferente. Temos tecnologia futurista unidos aos
costumes típicos do século XIX. Os seres híbridos começaram a nascer da união
de humanos e extraterrestres e logo essa raça tomou toda a Itália e se
intitulou de os Azuis, tanto pelo sangue nobre quanto pela cor de sua pele.
Comandados pelo cruel Régis (parente eunuco do Hell do MDM) os azuis estavam
sempre em busca de novas guerras. Em dado momentos, resolvem relembrar o
passado e invadir no dimensão novamente. Na década de 20 eles tinha tentando
pela primeira vez e foram rechaçados por Jenny Sparks que, aliás, foi a
responsável pela castração de Régis, fato que não deixou o “demonhão” azul nada
feliz.
Régis é do mal... |
Após altas confusões com essa galerinha do barulho, Jenny perde a paciência e ordena que o Doutor AFUNDE toda a Itália com a escória Azul junto. Quando percebe que esse ato fez com que todos ficassem mais “obedientes”, Jenny decide que é hora de tentar algo similar em nosso mundo...
A partir
daí, é claro que o Authority se torna alvo de temor e ódio de muitas potências
mundiais, inclusive do próprio EUA.
Com os 3
primeiros arcos roteirizados por Warren Ellis com desenhos de Brya Hitch e os 3
seguintes por Mark Millar com desenhos de Frank Quitely, The Authority serviu
de embrião para um dos grupos mais famosos da linha Ultimate da Marvel, OS
Supremos, dessa vez unindo Millar e Hitch. A influencia é tão clara, tanto nos
aspectos governamentais da trama quanto no aspecto comportamental dos
personagens. Todas as virtudes e heroísmo que impregnava os Vingadores do
Universo 616 foram postas em xeque neste novo universo onde o Capitão América
não era tão bom moço assim, onde o Hulk era um homicida canibal que o governo
acaba usando para seus propósitos quando lhe convém, com um Thor que era
considerado um maluco, com um Hank Pim desequilibrado e que batia na mulher,
Janet, com um Homem de Ferro com um tumor no cérebro e pouco tempo de vida
tornando-o menos altruísta e mais alto-destrutivo , um Gavião Arqueiro que
passa de um agente exemplar pra uma máquina de matar psicótica e com uma Viúva
Negra que não é nada confiável MESMO.
Praticamente
todos esses temas já haviam sido explorados em The Authority e, querendo ou
não, muita gente ficou incomodada quando viu tais “valores” sendo levados para
os personagens Marvel. Eu, particularmente, acho Supremos sensacional! No
entanto é uma outra realidade, um universo à parte e o regular continua pra
quem quer acompanhar os personagens clássicos. No caso do Superman, tanto nos
cinemas quanto nos quadrinhos, esses valores foram levados em menor escala
porém não se tem mais o clássico personagem para se apegar, já que os Novos 52
se tornaram o universo único e definitivo. O Superman deixou de ser um herói
que se preocupava com o bem estar do cidadão a ponto de parar e perguntar se
está tudo bem, deixou de ser o cara que procurava evitar o confronto com o
diálogo e se tornou um super ser arrogante, prepotente e com ímpetos homicidas,
caso o inimigo não fosse humano. Se querem ter uma melhor noção disso fora dos
quadrinhos, assistam a animação Liga da Justiça: Guerra, baseada no primeiro
arco da Liga pós Novos 52. O Super não é nem sombra do personagem que foi na
fase John Byrne, por exemplo.
O Superman dos Novos 52 bate primeiro e pergunta depois. |
The
Authority mostra que heróis extremistas podem dar soluções definitivas a vários
problemas...mas também são geradores de novos. Como confiar num super grupo que
pode tomar o poder e usar de força para conseguir o que quer de uma hora pra
outra? Eles não são exemplos definitivos de heroísmo e sujam as mãos com prazer,
no entanto eles sabem que o que estão fazendo ultrapassa certos limites e se
isso por o mundo contra eles...que seja! Eles ainda serão o mal necessário em
algum momento.
As primeiras histórias do grupo foram publicadas no Brasil pela Devir e pela
Pixel, porém a Panini publicou o arco do Warren Ellis a frente do Stormwatch
que se tornou o estopim para a criação do Authority e agora irá relançar as edições
os dois primeiros arcos encadernados. Pelo que vi, o preço está mais acessível
que os da Devir e isto é ótimo, pois é uma leitura mais do recomendada para
quem é fã de supergrupos, super-heróis ou apenas de uma ótima história.
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