Ou "Como fazer duas histórias com apenas um título".
Pois é, jovos e jovas, se você vem acompanhado a industria de quadrinhos atualmente, sobretudo a DC, o nome Scott Snyder deve ser bem familiar. Snyder se tornou o responsável por um dos principais títulos do Batman durante os Novos 52 e trouxe vários elementos novos para o universo do morcego, alguns muito bacanas, como a Corte das Corujas, e alguns bastante polêmicos, como o Coringa imortal. Atualmente ele é o responsável por transformar o Batman no RoboCop com direito a comissário Gordon no papel do Cavaleiro Enlatado das Trevas. Que "jenial", não!?
Merdas a parte, vez ou outra Snyder dá um fugidinha do mainstream super-heroico e envereda por títulos como Vampiro Americano, onde escreveu a mini série Seleção Natural, na qual trabalhou ao lado do desenhista Sean Murphy. E foi com Sean Murphy que Snyder idealizou a mini série autoral da qual falarei aqui, O Despertar (The Wake). O Despertar é uma mini série em 10 edições dividida em duas partes. As 5 primeiras edições tem um ar de ficção cientifica e terror, no melhor estilo de filmes como Do Fundo do Mar, já a segundo parte tem um ar de ficção cientifica e blockbuster Michael Bayniano, só que com menos explosões e mais roteiro. Mas, como dia Jack O Estripador, vamos por partes!
O Despertar: Parte 1
A história começa em uma terra totalmente tomada pelas águas em um cenário típico de pós-apocalipse. Uma jovem de cabelos verdes voa por entre os prédios em uma espécie de asa-delta e pousa sobre um dos edifícios parcialmente encoberto pelas águas. Em solo, ela chama por alguém chamado Dash que, em seguida, descobrimos ser um golfinho que parece trajar um tipo de armadura e carrega um aparelho em suas costas. De repente, as águas tranquilas se tornam violentas ondas e a jovem parece temer por algo que está por vir. É quando uma gigantesca criatura humanoide emerge das águas. Mas o que seria essa tal criatura? E como o mundo foi parar debaixo d'água? E como diabos um golfinho veste uma armadura? Todas essas respostas (menos a do golfinho) serão contadas em um flashback de 200 anos!
O ano é 2014 e a biologa marinha com especialização em cetologia ( ramo da biologia que estuda os cetáceos, os mamíferos marinhos), Dra. Lee Archer, está em mais um dia comum de labuta nos mares enquanto conversa com seu filho via skype, o qual está prestes a visitar a mãe em suas instalações. O bate papo é interrompido pela chegada de um helicóptero militar tripulado pelo agente Astor Cruz do Departamento de Segurança Nacional ( e a cara do Jean Reno). Astor revela que precisa da ajuda da Dra. Lee para estudar um estranho som gravado em uma instalação do Alasca, o qual se assemelha ao canto de uma baleia. O som , no entanto, não tem os mesmos padrões de uma Free Willy e a Dra. Lee acaba sendo convencida a acompanhar o agente Cruz até uma instalação submarina ultra secreta no Alasca. Lá ela é apresentada a uma equipe de pesquisa um tanto incomum, composta por Dr. Marin, professor especializado em folclores e mitos marinhos, Meeks, um magnata e caçador inescrupuloso tendo a vida marinha como seu principal alvo, e Bob, diretor da NOAA e ex-chefe da Dra.Lee.
Apresentações feitas e tretas postas na mesa (principalmente entre a Dra. Lee e seu ex-chefe), eis que as animosidades são cessadas quando um membro da tripulação aparece com a cara mastigada e, em seguida, um estranho e apavorante som é emitido da sala onde o senhor da cara comida havia saído. Finalmente o motivo para a presença da equipe ali é revelada. Uma estranha criatura com forma humanoide mas com fisiologia aquática, lembrando uma cruza de sereia com piranha ( o peixe, não a profissional do "sécso") está presa em um tanque, presa por uma camisa de força e correntes.
Mas, de onde ela vem? O que seu canto quer dizer? E como ela conseguiu atacar um homem estando completamente presa? As respostas vem em um ritmo alucinado em uma história que se torna um crescendo de terror. Mas, pra não falar demais e entregar pontos importantes da história, vamos a...
O Despertar: Parte 2
Somos jogados 200 anos no futuro. As águas tomaram grande parte dos continentes e elas são infestadas pela raça da criatura que havia sido capturada 200 anos antes. Eles são chamados de Mers ( que vem da palavra "mermaid" e na tradução da Panini ficou traduzido como "sereios").
Finalmente descobrimos quem é a jovem de cabelos verdes do começo da parte 1. Seu nome é Leeward e com a ajuda de seu golfinho Dash, vive caçando os Mers para lhes arrancar as cabeças. Acontece que a cabeça de um Mers contém uma substancia alucinógena, a qual se tornou a mais nova droga e é vendida no mercado negro. No entanto o dinheiro praticamente não tem mais valor e quase tudo é negociado por água potável, já que as fontes de água doce se tornaram escassas após o mar invadir os continentes.
A humanidade agora vivem, na sua grande maioria, em vilas erigidas sobre as águas. A Casa Branca deu lugar a Torre de Gelo, uma grande torre erguida sobre o maior reservatório de água potável do mundo. No comando está uma cruel senhora, a governadora Vivienne que tem como braço direito o implacável General Marlow, um brutamontes que segue cegamente as ordens da governadora. O principal inimigo do governo, além dos Mers, são os Desviantes, um grupo de renegados que tem a fama de serem canibais e terem relações sexuais com Mers.
Em meio a todo o caos, Leeward tem uma unica obsessão: Descobrir quem é Lee Archer, a voz que captou em seu rádio e que diz ter a chave para salvar o mundo. A partir daí, Leeward vai ser obrigada a fugir da governadora Vivienne e do violento General Marlow, vai ter que lidar com um grupo de Desviantes e ainda vai descobrir que os Mers podem ser muito mais do que aparentam.
E, finalmente , O REVIEW!
O Despertar trata de um tema que sempre me causou fascínio e calafrios. Afinal...o que existe nas profundezas do oceano? Scott Snyder nos entrega uma história que dá uma bela guinada da primeira pra segunda parte. São dois estilos totalmente diferentes entre si. Na primeira parte (como já foi citado) somos jogados em uma história de terror e suspense que nos prende do inicio ao fim e até nos deixa tensos em dados momentos. Daria um ótimo filme,aliás! Já a segunda parte faz uma curva bem mais aberta e se afasta bastante dos temas propostos na primeira. A história ganha contornos de ficção cientifica pós apocalíptica e aventura. Isso faz com que a história te prenda menos? Não. Mas se alguém sem conhecimento prévio der uma lida na parte um e esperar mais disso na parte dois, vai ficar bem desapontado.
Se formos traçar um comparativo entre obras já existentes, poderíamos dizer que a parte um seria (como também já citado) Do Fundo do Mar e a parte dois seria Waterworld: O segredo das Águas. Enquanto na parte um temos um clima claustrofóbico e angustiante, na parte dois temos correria, explosões, tiro, porrada e bomba. Inclusive os Mers são meio que deixados de lado na segunda parte, deixando a história se focar mais nos personagens humanos e em sua busca por respostas. E é aí que entra um grande problema...
Muita gente reclamou que o final de O Despertar ficou confuso. E eu tenho que concordar! A dúvida que fica é se Scott Snyder foi inteligente demais e nós que ficamos pra trás ou se ele apenas não soube ligar os pontos de forma clara e concisa. Em minha opinião fecal, o histórico de história de Snyder sempre teve um grave problema, e é justamente o final! Ele sofre da "Síndrome de Mark Millar", que consiste em começar uma história muito bem, trazer grandes momentos pro meio dela mas, no final, passar a impressão de quem pensou em tudo...menos em como dar um fim decente a coisa toda! O final de O Despetar não é de todo desentendível, mas tem momentos confusos demais. Muita coisa é jogada como quem joga um quebra cabeça de mil peças em ainda embaralha tudo. Você até consegue montá-lo até certo ponto, mas aí percebe que tem peças faltando. Se tudo o que eu falei aqui parece confuso, espere até ler você mesmo o final .
Bem,quanto aos desenhos, não tem nem o que se falar. Sean Murphy em ótima forma e nos entregando designs fantásticos, tanto em maquinário quanto em cenários e até mesmo no que tange ao assustador visual dos Mers. O desenhista nos entrega tanto momentos tensos e claustrofóbicos quanto momentos grandiosos e de encher os olhos.
Bem, o saldo final para O Despertar, em minha opinião, também se divide em duas partes. Assumo que tenho uma grande preferencia pela parte um devido ao seu clima de mistério e terror e por tratar de um tema que me chamou muito a atenção nos últimos anos, a teoria do Macaco Aquático. A tal teoria defende que as sereias existem sim, mas que elas nada mais são que nosso ancestrais que, ao invés de descer das arvores e irem para a terra, acabaram rumando para o mar e a evolução cuidou de adequar seus corpos para viverem nesse meio. Não se preocupe, isso não é nenhum spoiler importante. Mas caso você se interesse em procurar mais sobre o assunto, o Discovery Channel produziu um "documentário" chamado Mermaids:The Body Found , que conta a história de um grupo de biólogos marinhos que encontra os restos de um ser humanoide dentro do estomago de um tubarão morto. Ao juntar as partes, eles descobrem uma composição corporal similar a nossa mas com traços de mamíferos marinhos. Ainda é levantando a teoria de que esses sere fossem os responsáveis pelo Bloop, um som de frequência ultra-baixa que foi captado há alguns anos pela NOAA e que não se sabe ao certo a origem. Alguns especialistas afirma que se trata do som de um animal muito maior que a baleia azul, o maior animal do planeta. Enfim, é um "documentário" bem divertido e interessante. Aí você pergunta "ô, tio Hellbolha...por que você sempre coloca a palavra documentário entre parenteses?". Bem, jovos e jovas, é que fica difícil levar a sério um documentário cujo os cientistas tem fichas no IMDB...
Mas voltando a O Despertar, eu realmente prefiro a primeira parte mesmo que a segunda tenha seus pontos positivos. No entanto, imagine se um dia adaptassem para o cinema e a primeira parte correspondesse ao primeiro filme. Seria como A Bruxa de Blair, cujo o primeiro filme é um fund footage extremamente aclamado e o segundo virou um filmeco B de terror fuleiro (tanto que muita gente nem sabe que existe) e que destoou da coisa toda. Sem falar que a primeira parte tem um um final melhor e mais dramático apesar de construir o link para o confuso final da parte 2. Sendo assim, divido minha nota em duas partes também:
O Despertar parte 1: 8,5
O Despertar parte 2: 7,0
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