E
aí, fellas? Tudo dentro? Essa semana vamos falar de dois pesos-pesados do
quadrinho underground: Robert Crumb e Harvey Pekar, com o álbum Bob e Harv –
Dois Anti-Heróis Americanos, produzido pela dupla. Mas quem são esses dois
sujeitos?
Os autores
Robert
Crumb é o quadrinista underground mais conhecido do mundo. Começando seu
trabalho nos anos de 1960, é considerado até hoje um dos pais da contracultura,
movimento que se espalhou da Califórnia para o mundo. Mas antes disso, é
preciso contextualizar a obra de Crumb.
Na
década de 1950, os gibis de super-heróis tiveram uma venda acentuada nas
vendas. As revistas de terror, principalmente da lendária editora E.C. Comics (onde
surgiria também à emblemática Mad) é que tomaram a dianteira das vendas nos
EUA. Incomodado com isso (e provavelmente sem ter ninguém pra dar uma com ele),
o psicólogo Frederic Wertham escreve o livro “A Sedução do Inocente”, onde
acusa os quadrinhos de serem culpados de praticamente todas as mazelas que se
abatiam sobre a América. Foi ele quem insinuou pela 1ª vez que a relação de
Batman e Robin era um tanto gay, criando possivelmente a piada homofóbica mais
antiga de que se tem noticia. É preciso entender a paranóia em que os EUA
viviam. A 2ª guerra tinha acabado, e a guerra fria estava começando com tudo.
Qualquer coisa poderia ser acusada de comunista e nociva ao bem comum da América.
Com a criação do Comic Code, que basicamente censurava os quadrinhos, a nona
arte passou uma década de altos perrengues, pela falta de liberdade criativa,
gerando apenas histórias fracas e sem grande importância. Mas o que fazer
então, se não era possível publicar uma boa história em uma editora?
Para
Crumb a idéia era aparentemente simples, produzir, editar e vender sozinho suas
histórias. Inspirado pela contracultura da época, e tornando-se herói do
movimento hippie (mesmo que a contragosto), Crumb vendia suas revistas na rua
mesmo, em lojas mal freqüentadas, bares, e outros lugares uma tanto inóspitos.
Com histórias autobiográficas, ele acabaria influenciando toda a geração
seguinte, que levava o lema punk “Do It Yourself (faça você mesmo)” muito a
sério, mesmo que o punk só viesse há surgir algum tempo depois.
Dentre
esses novatos que se inspirariam em Crumb, um dos mais notáveis foi Harvey
Pekar. Harv conheceria Crumb quando esse já estava famoso, e tinha editoras que
publicavam seu trabalho, sem precisar mais ficar vendendo-as nas ruas. Porém, o
espírito libertário permanecia ali, intacto. Harv escreveria algumas histórias
e pedia para vários artistas desenhá-las, dentre os quais, adivinhem? Robert
Crumb. Mas as editoras não estavam interessadas em investir em novatos, e Harv
acabaria tendo que editar seus próprios títulos, assim com fizera Crumb, anos
antes. E é disso que esse álbum trata.
Em
Bob e Harv, não espere história magníficas, cheias de heroísmo e coisas assim.
Harv é chamado de o cronista da vida cotidiana, e aqui ele mostra o porquê
disso. Histórias simples, como o porquê do seu nome, o 1º contato com Crumb, de
como ele passou de um colecionador de discos fanático para um quadrinista independente,
tudo é contado aqui, com os desenhos de Crumb. Se nada de extraordinário
acontece nas histórias de Harv, talvez seja porque a vida por si só já é assim.
Pensar em como um funcionário público comum de Cleveland, pode escrever uma
história que seria lida e resenhada por um mau estudante de design de
Pernambuco, é um exercício simplesmente fascinante. Harv faz da banalidade algo
sublime, bonito de se ver. Afinal, existe algo melhor do que estar andando na
rua e simplesmente topar com um prédio que você ache bacana, ou com um amigo
meio mala, de maneira totalmente ocasional? Ou mesmo que nada disso aconteça, o
simples fato de poder sair já deveria ser fascinante o bastante.
O
filme Anti-Herói Americano, foi baseado nas histórias da America Splendor,
revista em que Harv publica suas histórias até hoje, inclusive algumas das que
estão nesse álbum. A Conrad fez um trabalho bem bacana aqui. Formato magazine,
papel bacana, em suma, um grande gibi, a altura de seus dois autores, que mesmo
sendo anti-heróis, nunca deixaram de ser eles mesmos. Recomendado, não. Obrigatório.
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