sábado, 20 de fevereiro de 2016

Deadpool e a síndrome do "Bazingueiro".



Vamos falar sério sobre um personagem nada sério.
Como todos já sabem, Deadpool, personagem "criado" por Robe Liefeld e Fabian Nicieza, ganhou uma adaptação para as telonas pelas Fox e está causando um estardalhaço tremendo devido ao seu sucesso assustador. Com isso, a internet se dividiu entre fãs adorosos e pessoas totalmente ultrajadas com o fato de um personagem que é uma cópia de outros dois tenha alcançado o patamar de "astro". Essa divisória é composta basicamente por 3 lados:

1- Pessoas que conheceram o personagem através do jogo (ou JOGOS, já que ele apareceu em alguns outros antes de ter seu jogo solo), das aparições em desenhos animados como Homem-Aranha Ultimate e Hulk vs Wolverine, do teste em CG para o filme que vazou e impulsionou a produção do longa em si  e, por fim, os que conheceram o personagem através dos trailers e vídeos de campanha de marketing do próprio filme. Esse público fica entre os 12 e 23 anos

2-  Leitores de quadrinhos "veteranos", que expõem com orgulho obras do Alan Moore, Grant Morrison, Frank Miller (nos bons tempos) em suas prateleiras e, por vezes, levam os quadrinhos a sério demais a ponto de começarem discussões acaloradas por isso. Esse público fica entre os 24 e 45.

3- Os fãs de quadrinhos que também são "veteranos", no entanto tem a mente aberta e sabe que nem tudo deve ser levado tão a sério e, por conta disso, gostam das histórias do Deadpool. Esse público fica entre 24 e 45 também, mas não se incomoda quando alguém entre 12 e 23 demonstra interesse em ler Alan Moore, Grant Morrison e Frank Miller (nos bons tempos), afinal tem que se começar por alguma coisa, certo?

O grande problema  desses 3 grupos, fica justamente no número 2. Eles praticamente desprezam os integrante do grupo 1 e insistem em duvidar que realmente existam pessoas como as do grupo 3, jogando os grupos 1 e 3 no mesmo pacote. 

O que você está lendo até agora foi escrito por um integrante do grupo 3. Eu não conheci o Deadpool ontem, vendo um trailer e dizendo "Nossa! Que foda! Um personagem HUEzeiro todo engraçaralho que faz piadinha conversando comigo! Legal...a partir de hoje ele é meu personagem favorito!Vou até colocar a foto dele no meu perfil do facebook!".



Conheci o personagem em 1999, quando li uma edição de Marvel 99, um formatinho da editora Abril que trazia um mix de histórias nas quais estrelavam Hulk, Demolidor, Kazar, Elektra e o próprio Deadpool. O taço do Ed McGuinness me chamou a atenção de imediato por ser diferente do restante, meio fofinho até, lembrando mais uma estampa de camiseta. Como sempre gostei de traços diferentes, fui conferir a história. Ela era escrita por um cara chamado Joe Kelly e trazia o Deadpool tendo que invadir um hospício para resgatar uma mulher com tripla personalidade (Mary Tyfoid) e, no meio da quizumba toda, ele começava uma briga com uma enfermeira que se transformava num tipo de homem das cavernas cabeçudo e com poderes mentais (Animus). Em meio a tudo isso, ele proferia piadas à rodo e não levava nada a sério. A história me ganhou!

Eis a edição.
Dias depois, fui até uma banca que vendia revistas antigas e comprei um número anterior aquele só pela história do mercenários tagarela. Agora ele enfrentava o Hulk e tinha que pegar uma amostra de sangue do Gigante Esmeralda. Uma das piadinhas que ele faz antes de enfrentar o verdão, pois está morrendo de medo, eu guardo na mente até hoje: Não preciso fazer ele sangrar. Basta eu ficar no sovaco dele, ele sua um pouco em mim e já resolve! Me diverti horrores com aquela edição, assim como todas as tantas vezes que a re-li através dos anos.


Depois de Marvel 99, Deadpool fez uma poucas aparições esporádicas em outras revistas entre 2001 e 2002,  mas só veio reaparecer notoriamente em 2003 nas us própria minissérie pela Panini. Fiquei mais que feliz em ver o personagem de volta as bancas...mas o momento foi breve, pois uma briga ente Liefeld e a Marvel levou o personagem a ser substituído por uma cópia chamada Agente X. Porém, no final as coisas se acertaram e ele voltou, mandando o tal Agente X pro limbo. E seguiu-se mais hiato de Deadpool solo, o qual terminou apenas em 2011, quando voltou a ter revista própria novamente. Desde então, a popularidade do personagem só cresceu e ele não saiu mais das publicações Marvel da Panini.

Encadernado reunindo as edições de 2003.
Houveram momentos bons , momentos ruins e momentos MUITO RUINS na modesta "mitologia" do personagem. No entanto, a minha favorita é a da Marvel 99. Nessa época eu não sabia que o Deadpool havia sido criado por um dos nomes mais polêmicos da industria de quadrinhos, o qual era conhecido por seus desenhos horrendos e suas cópias descaradas. Nessa época eu não sabia que o Deadpool era uma dessas cópias descaradas, até por que eu não conhecia o Exterminador da DC. As semelhanças com o Homem-Aranha estavam ali? Sim. Mas eu nem notei, pois não importava pra mim.  Para mim, o verdadeiro pai do Deadpool é, sempre foi e sempre será o senhor Joe Kelly. E eu lhes explico o por que.


Há uns dois anos atrás eu fui arriscar meus olhinhos cansados pra ler a primeira aparição do Deadpool na edição dos Novos Mutantes Nº 98, escrita pro Fabian Nicieza e Rob Liefeld e desenhada (MUITO MAL) pelo próprio Liefeld. Como fato notório para os "veteranos", naquela época se ganhava royalties por quantidade de personagens criados e Rob lifeld criava muitos deles sem saber o que estava fazendo, Tanto é que o personagem, tal qual a cópia do Exterminador que era, agia como um assassino frio de poucas palavras e que pouco tinha a ver com a personalidade maluca que conhecemos hoje. Essa personalidade foi sendo moldada aos poucos e só quando saiu das mãos sebosas do Lifeld e caiu nas de nomes como Mark Waid e Joe Kelly é que ela ganhou contornos definitivos até se definir. Daí o fato de que eu atribua a paternidade do personagem ao Joe Kelly. Dizem que pai é quem cria, e foi Kelly quem criou os melhores aspectos do personagem.


Aí os pertencentes do grupo 2 já devem estar dizendo "Beleza, você conhece o personagem. Mas isso não o trona um BOM PERSONAGEM! Ele ainda é um personagem de merda, sem profundidade e sem um background de peso.". E eu digo...ok! Nem todo personagem ou história precisa ser um Roscharch em um Watchmen pra ter fãs. O objetivo primordial de uma HQ é divertir. Se ela conseguir te fazer pensar, ótimo! É uma obra e tanto e, de fato, merece ser celebrada! No entanto Deadpool JAMAIS quis ser o que não é. O personagem nunca teve histórias com drama pesado, mas tinha seus pequenos momentos dramáticos na fase Kelly, o quais eram ótimos, pois o personagem ainda tinha aquele pé na realidade, coisa que muitos escritores mais recentes fazem questão de deixar pra lá em prol da pura comédia pastelão. Aliás, peço licença pra dizer que as duas vozes na cabeça que o Wade teve por um longo período de tempo e que muitos fãs adoram eu realmente acho uma ideia bem ruinzinha...


Aí os pertencentes do grupo 2 voltam a retrucar "Tá...você é leitor das antigas e, por algum motivo que eu me recuso a entender, gosta mesmo do personagem. Mas são esses moleques bazingueiros que só conheceram o cara por causa do filme mas juram que são fãs desde sempre que me incomodam!". E eu lhes digo...pois a mim, não incomodam NENHUM POUCO! Aliás, eu acho ÓTIMO! Sabe por que?  Em primeiro lugar eu acho que todo mundo tem o direito de começar a ler HQs por onde achar melhor, seja por uma obra boa ou ruim. Muito veteranos começou lendo coisa ruim amarradão nos anos 90, como Heróis Renascem, por exemplo. O importante é que quando essa pessoa vier até um veterano e disser "Olha...eu gosto disso!" o tal veterano não responda "Que merda! Você é um bazingueiro de merda! Saí de perto de mim, seu lixo escroto!" e sim "Ah, bacana...olha, tenho um material pra te indicar, vai que você goste!". INTEGRE, não exclua. Pra que isso? Somos leitores de quadrinhos, não uma sociedade secreta milenar!  Isso me leva ao segundo ponto.

Em segundo lugar, eu prefiro que essa galera "bazingueira" vá em massa, aos BORBOTÕES MESMO, pras salas de cinema ver Deadpool e, em seguida, consuma feito um bando de traças os quadrinhos do personagem. Afinal, quem imaginaria que um personagem de segundo escalão...talvez até TERCEIRO...que eu tanto gosto viria a ganhar seu próprio filme? E mais, que viria a ganhar um filme que se tornaria um norte para muitos que virão depois (chega de PG 13 em tudo, né, povo!?)! Com isso, teremos mais filmes, desenhos, jogos, animações e, claro, quadrinhos do personagem nas lojas. É um tanto egoísta da minha parte pensar assim? Talvez seja. Mas eu nunca juguei ninguém pelos seus gostos de leitura antes, vou começar agora que eles estão ajudando a catapultar um personagem do qual gosto? Não senhor!


Quanto as pessoas que reclamam do filme como obra isolada, os famosos "críticos amadores", eu só tenho a dizer...tudo que eu falei sobre as HQs se aplicam aqui. O filme não tenta ser o novo Cidadão Kane. É só um filme em que um cara acreditou e pôs sangue, suor e lágrimas pra ver acontecer da maneira que  ele e os fãs julgaram certo. E esse cara é o próprio Ryan Reynolds, o qual, ao lado do diretor Tim Miller, merecem ser aplaudidos de pé por produzirem a adaptação de uma história em quadrinhos mais fiel já vista na história do cinema de super caras de pijama. 


Aí eu vi alguma pessoas dizendo "Mas essas partes dramáticas não tem nada a ver com o prsonagem. Deadpool com sério? Nem cola!". E eu volto a trazer o nome Joe Kelly pro assunto. O filme é COMPLETA E TOTALMENTE baseado na fase do Kelly a frente do personagem. E,naquela época, o personagem tinha seus draminhas pessoais, como eu já havia dito, e seus momentos sérios, sendo mais calcado na realidade do que em uma história de um demente com tripla personalidade que tenta namorar a Morte. O lance do ódio que Wade sente por Killbrew, um dos cientistas envolvidos no processo que transformou Wade em Deadpool, e sua vontade matá-lo sendo refreada pela bela Siryn, que age como sua consciência e acaba se tornando seu interesse amoroso (essa vaga foi preenchida pelo Colossus no filme. A da consciência, não do interesse amoroso...).

Deadpool e Siryn: Ainda uma história de amor melhor que Crepúsculo.

O filme pega todos os bons elementos dessa fase e joga num belo pacote de 1:45hr que te faz rir e se divertir do inicio ao fim. Aliás, vi um monte de gente que torcia o nariz pro filme por puro preconceito pelo personagem ter sido criado por quem foi, elogiando depois de vê-lo. E, muitas vezes, um personagem pode não funcionar muito bem numa HQ mas se saí muito melhor em outras mídias, como Kingsman por exemplo. Acho a HQ uma bela porcaria, mas o filme, que muda MUITO da história, é uma das coisas mais legais que assisti no ano passado. Então, se você ainda tá nessa, deixe essa frescura no bolso da outra calça e vá ver. Você corre o risco de estar perdendo um baita filme de ação/comédia.

Você pode acabar tendo uma baita surpresa!
Enfim, esse texto longo (e escrito tarde pra caramba...tô tonto de sono) serve pra dizer mais uma vez: Não sejam preconceituosos! Os termos "bazingueiro" e "modinha" já se tornaram eufemismos para "burro" e isso é babaquice. Não faça do fãs de quadrinhos um grupo de idiotas ignorantes. Inclua, não exclua. E descubra que estender a mão cansa bem menos que empurrar alguém. 

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