terça-feira, 29 de março de 2016

Hellbolha Review- Rurouni Kenshin:Tokuitsuban



Ou "Rurouni Kenshin: Versão do Autor".
Olá, jovos e jovas, se você é fã de Rurouni Kenshin (ou Samurai X, como ficou conhecido em terras tupiniquins), já deve ter assistido a sensacional trilogia em live action que, muito felizmente, foi lançada no Brasil. O que talvez você não saiba é que a JBC lançou um pequeno remake do mangá original de Rurouni Kenshin feito pelo próprio autor da obra, o senhor Nobuhiro Watsuki. 


Feito para pegar carona no lançamento do primeiro longa da trilogia, a nova versão ganhou o título de Rurouni Kenshin: Tokuitsuban ou, em tradução para o inglês, Rurouni Kenshin: Cinematographo , título que deixa bem claro as intenções da publicação. No entanto, Watsuki não transfere a história do filme para as páginas do mangá, preferindo fazer um exercício de imaginação e traçando sua própria "versão cinematográfica", algo do tipo "E se eu tivesse que resumir todo o primeiro arco em um filme animado de 2 horas". O resultado é uma reimaginação tanto no visual quanto na personalidade de alguns dos personagens resultando em uma história que tem momentos  que vão do interessante ao incomodo no fã mais antigo.


E é claro que a JBC não marcou toca e trouxe o mangá divido em duas edições para a terrinha com o subtítulo de Versão do Autor (o que soa um pouco estranho, já que o mangá original TAMBÉM É A VERSÃO DO AUTOR. No entanto é uma clara brincadeira com a famosa expressão "Versão do diretor). E, sem mais enrolações, darei minhas considerações sobre esta história que, como fã da série, fiz questão de adquirir.

A história de Rurouni Kenshin: Tokuitsuban já começa colocando Kenshin, nos seus tempos de Battousai, em um de seus famosos embates com o Shinsegumi (uma espécie de policia do Japão feudal). No entanto, nesse rápido embate já temos a primeira e surpreendente diferença com relação a obra principal. Acontece que um dos integrantes do Shinsegumi se mostra páreo duro para Kenshin, e não se trata de Saito Hajime ou o jovem Souji Okita. O tal sujeito é ninguém mais, ninguém menos que Jin-e Udo, o Chapéu Negro (Kurogsa, no original), primeiro grande vilão do mangá/anime e do primeiro filme. 


Nesse rápido embate, Jin-e tem suas mãos perfuradas pela espada de Kenshin, fato que aparenta não ter importância para a trama mas que trará outra diferença ao personagem com relação à sua versão original. Em seguida, quando  a clássica luta entre Kenshin e Saito Hajime está para começar, somos jogados para o ano 11 da Era Meiji (1878), data onde a trama principal de Rurouni Kenshin se desenrola.



A partir daqui as diferenças com a trama original ficam mais e mais gritantes. Kenshin acaba conhecendo Kaoru em um torneio ilegal de esgrima quando é confundido por Yahiko, o qual trabalha para Karyu Takeda, o organizador do tal torneio, com o falso Battousai contratado para o espetáculo. Mal sabia o moleque que Kenshin era o verdadeiro. No entanto, a alma gentil de Kenshin impede que ele revide aos ataques de uma furiosa Kaoru, a qual o derruba com um único golpe. A platéia fica indignada até que Kanryu, podre de rico que é, diz que vai devolver o dinheiro de todos e apresenta o suposta verdadeiro Battousai, mais parece ter saído do mangá do Naruto...



Depois disso temos o plot básico, com Kenshin salvando Yahiko das mãos do Karyu e, em seguida, Kaoru, que havia sido levada para a mansão do ricaço maluco onde ela, junto de outros samurais, teriam que enfrentá-lo com sua metralhadora em um jogo maluco. Por fim, Kanryu é derrotado mas não vai preso devido a sua influência financeira. Ele contrata um grupo de mercenários com o único objetivo de matar Battousai, entre eles figurinhas conhecidas dos leitores do mangá original, como Banji, Gein, o grupo de ninjas que são os antagonistas de Kenshin na saga que mostra seu passado, Jin-e e os mais surpreendentes para os fãs...Hajime Saito e Sanosuke Sagara!


Ah, vale frisar aqui que o uso de Banji e Gein, que só aparecem na ultima saga do mangá ainda inédita em anime, se deve ao fato de ambos aparecerem no primeiro live action, mesmo que de forma tosca resultado de uma mistureba de personagens. Banji foi misturado com o Shikijou enquanto o Gein foi mesclado com o Hanya, ambos da Oniwabanshu, grupo chefiado por Aoshi Shinomori, segundo grande vilão do mangá original. O resultado foi esse que você confere abaixo:




Agora temos a luta de Sanosuke, que não usa sua Zambatou, tal qual no mangá/anime, e que já domina a técnica do Duplo Extremo. Sano é derrotado e se une ao grupo,claro.Temos, então, o segundo encontro de Jin-e e Kenshin. Porém o mal caráter só veio dar um oi e avisar que nao vê a hora de reencontrar o velho Battousai, saindo vazado em seguida. Saito será o próximo adversário de Kenshin e, como de praxe, somos levado a mais um flashback que mostra um clássico embate entre os dois no final do shogunato. A cena é curta mas é SENSACIONAL! E é nesse ponto que a trama principal do primeiro volume termina dando espaço pra uma one shot da qual falarei mais adiante.

No volume dois temos a invasão ao Dojo Kamia empreendida por Kanryu em companhia de Banji e Gein. A luta com o Saito não acontece, oque pode decepcionar alguns fãs, tendo em vista que é uma das melhores lutas do mangá original, mas a justificativa para não acontecer é convincente.Ela é substituída por uma conversa reveladora onde Kenshin se abre de um modo que ele jamais havia feito no mangá original.


Voltando as tretas, temos uma trama onde Karyu chantageia Yahiko afim de obter a escritura do Dojo Kamia em troca de ajudar a família da Tsubame (aquela menininha do restaurante Akabeko e "namoradinha" do Yahiko, lembram) e impedir que a menina seja vendida como escrava sexual no ocidente. Em meio ao dilema de Yahiko temos o combate de Sanosuke contra Banji e Saito contra Gein, ambos muito bacanas. Mas é o embate final do mangá que redime todos os pontos fracos da história até aqui! Sério! Kenshin contra Jin-e traz alguns elementos novos e um baita momento dramático na trama que você vai dizer "Cacildis..." e não irá acreditar nos seus olhos por alguns segundos. Essa parte eu não vou entregar. Só digo que merece ser lida. Nem que seja só esse pedaço... 

Enfim, mais uma vez eu me empolgo e falo demais, mas isso sempre acontece quando se trata de algo que eu gosto. E Rurouni Kenshin/Samurai X está no meu Top 10 de mangás.Agora vamos a análise!

Comprei a primeira edição dessa Versão do diretor simplesmente movido pelo meu amor pelo mangá original e pela curiosidade de ver uma reinvenção pelas mãos do próprio autor.Confesso que os pontos baixos eclipsaram os pontos altos desse primeiro volume. Em primeiro lugar eu sempre detestei o plot do Kanryu Takeda bem como o próprio personagem. Um comerciante riquinho serve como desculpa para apresentar personagens fantásticos como Aoshi Shinomori e sua Oniwabanshu mas não funciona como vilão central em uma trama. É chato, irritante e imbecil. Mas esse infeliz perdura até o segundo volume e lá volta a ser a muleta que sempre foi, o que conta pontos a favor. 


Ainda sobre o primeiro volume, meu desgosto se deveu muito a interrupção da trama central para sermos apresentados a uma one shot que se passa antes do encontro entre Kaoru e Kenshin. Uma história boba e TOTALMENTE DISPENSÁVEL, que mostra Kenshin ajudando um "piloto" de rikisha (aqueles carrinhos puxados por pessoas que eram usados como transporte) e um misterioso médico estrangeiro que, na verdade, é uma mulher. Ele enfrenta uma máfia de médicos que não está satisfeito com a ajuda da misteriosa doutora que vem tirando os lucros que proviam dos doentes. No final, ele enfrente um esgrimista espanhol. A história, que deveria mostrar os conflitos psicológicos do esgrimista em busca de um último adversário já que a arte da espada na Europa estava morrendo, é substituida por uma história que mais parece um filler ruim do anime e deixa o personagem do esgrimista como mais um vilão caricato com um visual que parece ter saído de outro mangá do Watsuki, Busou Renkin. De acordo com oque o próprio Watsuki diz na seção "Free Talk" do mangá, essa metamorfose se deu devido a falta de espaço para desenvolver a trama em tão poucas páginas.


O segundo volume eu acabei comprando só pra ter a "coleção" completa. E AINDA BEM QUE O FIZ! Em suas poucas mais de 200 páginas (contra 150 da edição anterior) somos apresentados a momentos sangrentos por parte de um alucinado Jin-e, a combates curtos mas que remetem ao espirito original do mangá por parte de Sanosuke vs Banji e Saito vs Gein (aliás o personagem teve sua persona transformada em um charmoso jovem devido as reclamações dos leitores da época do mangá original que não gostaram do personagem se revelando um velho em seu combate contra Aoshi Shinomori). Mas a cereja do bolo está mesmo no já citado combate final de Kenshin e Jin-e, com direito a altas doses de sadismo por parte do vilão e uma explicação detalhada de como é executado o famoso Amakakeru-Ryu-No-Hirameki (apesar do golpe ter mudado de nome). Acredite, esse volume fez ter adquirido o (fraco) primeiro valer a pena.


Alguns fãs podem estranhar,além da nova caracterização de alguns personagens e a mudança na trama, o tom mais fantasioso da nova série. Não que a original fosse quase documental, mas aqui temos mais liberdade artística por parte de Watsuki e, por isso, algumas habilidades menos "pé no chão" por parte de alguns personagens. As mais notórias ficam por parte do Jin-e, cujo a técnica do Espirito Unilateral, aquela que fazia a Kaoru ficar paralisada e sem poder respirar, agora é usada pra derrubar o adversário por um breve momento, quase como uma picada de cobra. No caso, Keshin não tem que matar Jin-e para que Kaoru se livre da técnica e volte a respirar, aqui o Chapéu Negro fez um corte no pulso de Kaoru e Kenshin terá que derrotá-lo antes que ela perca todo o sangue. 


Outro fator fantasioso do personagem está no fato de ele não usar as espadas de modo tradicional mas, sim, apenas as lâminas dentro dos buracos que o Kenshin fez e que eu citei láááá em cima, lembra? No entanto isso não tira a graça do personagem, muito pelo contrário.Eu achei sensacional!


Quanto aos desenhos, Watsuki refinou sua arte e a deixou com um estilo e beleza de encher os olhos. Ela é simples e, ao mesmo tempo, extremamente detalhada. E o dinamismo, que já era ponto forte em sua narrativa. está mais forte e presente que nunca. Por vezes o traço lembra muito o OVA Shin Kyoto-hen, que tem um traço mais suave (e que também é o remake de um arco da série, no caso o do Shishio. É de encher os olhos, recomendo).

O saldo final dessa história que começa devagar e pisa no acelerador vertiginosamente no final é bem positivo. Se você quiser conhecer Rurouni Kenshin mas não encontra o mangá original em lugar algum , pegue esta versão para sentir o gostinho da coisa toda. Se você gostar, redobre sua busca, pois com toda certeza iá gostar do mangá original 5 vezes mais. Se você já é fã velhaco e tem toda a obra original, dê uma chance a essa nova versão. Além de divertida, ela vai casar bonitinho ao lado de sua coleção original, já que a edição da JBC está caprichadíssima! No mais...

Nota: 8,5


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