quinta-feira, 28 de abril de 2016

Hellbolha Review- Papa-Capim: Noite Branca



Nas imortais palavras da senhora maria das Graças Meneghel: Vamos brincar de índio!
Pois é, jovos e jovas, mais uma Graphic MSP  aporta em nossas bancas trazendo um reinvenção pimpona de mais alguns personagens do senhor Maurício de Souza. E desta vez quem ganha os holofotes é o indiozinho Papa-Capim, integrante do segundo escalão de personagens do Mônicaverso.


O grande diferencial desse 11º número da série MSP é o tema escolhido pela roteirista Marcela Godoy. Em Noite Branca veremos a primeira Graphic MSP de terror! Sim! O que eu achei sensacional, diga-se de passagem. E Marcela consegue trabalhar mitos e lendas do folclore indígena de maneira magistral, mostrando que a cultura de nossos índios tem uma riqueza de lendas que não faz feio perto de nenhuma miríade de lendas europeias, por exemplo. Agora, analisemos!

 O Roteiro

A história de Papa-Capim: Noite Branca começa mostrando uma tribo sendo atacada durante a noite por um misterioso nevoeiro que parece levar terríveis criaturas dentro de si. Na manhã seguinte, enquanto ajuda seu amigo, o índio Cafuné, em seu treinamento para um vindoura prova de combate, Papa-Capim acaba descobrindo entre os arbustos um índio moribundo de uma tribo vizinha. O tal índio repete apena um nome: Noite-Branca.

Após levá-lo até o pajé de sua tribo, Papa-Capim percebe que há algo a mais nas palavras do índio moribundo, algo que os adultos parecem esconder dele. Na noite seguinte, Papa-Capim tem um estranho sonho onde um pássaro papa-capim-capuchino, ave que dá nome a nosso herói, parece ser morto por uma nevoa esverdeada.



 Quando Papa-Capim pega o corpo inerte do pássaro nas mãos, a névoa deixa o corpo da ave invade o corpo do jovem índio, matando-o em seguida. Ao acordar, Papa descobre um pássaro exatamente igual ao do seu sonho morto sob sua rede. Papa-Capim está certo de que aquilo é um presságio e tenta avisar ao Pajé, no entanto o velho índio não dá atenção a Papa-Capim. Mal sabe ele que as consequências por não ouvir as palavras de Papa-Capim serão mortais para toda a tribo.

Muita treta, vixi...

Como já dito anteriormente Marcela Godoy constrói uma trama extremante interessante e com alguns belos momentos. Acompanhamos não só uma trama rasa com teor sobrenatural, acompanhamos também o amadurecimento de Papa-Capim, o exato momento que deixa de ser um menino pra se tornar um homem em meio a uma situação extrema. Tudo isso sem atropelos em suas oitenta e poucas páginas.

Como também já foi dito, as lendas e mitos usados na trama dão um toque sensacional a coisa toda. Marcela fez uma extensa pesquisa e encaixa suas descobertas como blocos de lego nessa divertida brincadeira narrativa. Uma dessas lendas está intrinsecamente ligada á supracitada jornada de amadurecimento de Papa-Capim e também proporciona um divertido easter egg revelado nos extras da HQ. 

O único ponto que não ousarei chamar de "negativo" mas sim de "birra minha", foi a mistura de lendas para explicar a origem da ameaça da Noite Branca na HQ. A história real  já era bacana e poderia levar pra uma vertente mais misteriosa, com uma origem mais própria. No entanto Marcela preferiu fazer um mix com uma já velha e conhecida lenda europeia. entendam, não ficou ruim, ficou interessante. Mas EU tenho uma birra com isso, pois achei meio genérico demais.

Ah, em tempo: O significado REAl, fora do escopo sobrenatural, de Noite Branca é uma alusão à chegada dos colonizadores e todo o mal que os índios sofreram nas mãos dos mesmos.

Os Desenhos
Eis um ponto delicado...
Renato Guedes é figurinha carimbada pra quem é leitor do universo DC, sendo seus trabalhos mais marcantes em Superman que, inclusive, pode ser visto na terceira edição da série de encadernados da Eaglemoss, Superman: O Último Filho. No entanto, eu tenho um sério problema com um aspecto do traço do Guedes. Não é anatomia, que ele domina muito bem, não é estilo, que eu acho muito bacana. Meu problema está nas EXPRESSÕES FACIAIS de seus personagens.

Acontece que em MUITOS momentos, a expressão facial de alguns personagens não passam o que deveriam. Destaco aqui os momentos em que os personagens tem que demonstrar medo e terror, mas acabam sendo desenhados como se estivessem dando um sorriso tímido em pra uma foto de calendário de padaria, e isto é um problema dos grandes, já que tira a veracidade da cena e te puxa da imersão te fazendo para pra pensar "mas que porra de cara é essa?".

Expressões estranhas. E, acreditem...essas nem são as piores...

Em termos narrativos tem uma pegada ok. Não se sobressai mas também não se prejudica. Apenas um painel onde uma história longa é contada e as caixas de diálogos deveriam casar com os desenhos é que mostram um pequeno deslize, já que o texto e o desenho parecem "andar" em velocidades diferentes.

Quanto a caracterização dos personagens, aqui sim vale dar total mérito para Renato Guedes sem ônus algum. Os índios parecem índios de verdade. Em alguns momentos é quase como olhar pra uma foto de uma revista sobre tribos.

As Cores
Taí um fator que me causou conflitos. As cores foram feitos à 6 mãos, sendo que Marcelo Guedes deu os tons iniciais e as cores base ficaram á cargo de Diogo nascimento e Paula Goulart. Acontece que a cor é uma inconstante durante toda a história, sendo que temos momentos com cores chapadas e suaves e outras com um detalhamento de luz e sombra, o que torna tudo meio caótico, sem uniformidade. Isso resulta em momentos que variam do belo para o simplório de maneira muito brusca. A impressão que se tem é de que cada par dessas 6 mãos estavam querendo ir pra um lado diferente. 

Essa imagem ilustra PERFEITAMENTE o que eu quero dizer com cores destoantes. Repare como o Papa-Capim parece um boneco feito em CG enquanto o resto dos personagens em cena são coloridos de maneira mais simples. Parece um grande painel de colagens...

Veredicto.  
Papa-Capim: Noite Branca é uma das MSP que mais me deixou dividido, pois temos um belo roteiro e uma arte com alguns problemas. Pelo menos não caiu na mesma armadilha de Turma da Mata: Muralha, que tinha sérios problemas em ambos os aspectos. E, mesmo com todos os contras por parte da arte, ela ainda consegue acumular muitos pontos positivos pelo trabalho de Marcela Godoy. Não fica no Top five mas ganha pontos o suficiente pra não cair na lanterna da lista da MSP, defendido com louvor por Jotalhão e seus amigos. Diverte, engorda e faz crescer.

Nota:7,5  

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